PM paulista repete agressões e sufocamento
Apesar do levante internacional contra o racismo estrutural nos últimos meses, novos casos de violência policial contra a população negra seguem chocando o Brasil e o mundo.
Na tarde desta terça-feira (14), a opinião pública brasileira ficou indignada ao tomar conhecimento de mais um caso de agressão policial, com sufocamento, a um cidadão negro. O incidente ocorreu em São Paulo, e a vítima era um entregador que participava de um ato para reclamar das más condições de trabalho da classe, que se intensificaram com a pandemia da Covid-19.
Ações violentas como essa têm se tornado cada vez mais conhecidas do público nos últimos meses, desde o assassinato do norte-americano George Floyd no estado do Minnesota, nos Estados Unidos, no final de maio.
Nesta manhã (14), uma das vítimas de ataques desse tipo no Brasil, uma comerciante, negra, do sul de São Paulo, narrou ao programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo, como se sentiu ao ser agredida e sufocada por um policial militar na cidade de Parelheiros, também no final de maio. O caso só ficou conhecido no último domingo, ao ser divulgado pelo Fantástico, também da emissora.
"Achei que iria ser morta como ele [George Floyd]. Eu estava no chão e lembrava daquela cena dele. Achei que iria morrer ali", disse a mulher, uma viúva, de 51 anos, mãe de cinco filhos e avó de dois netos.
Após a repercussão do episódio, a Coalizão Negra Por Direitos, que reúne organizações de direitos civis e movimentos negros, denunciou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
"Solicitamos com urgência que providências sejam tomadas para que haja responsabilização efetiva dos policiais e daqueles que governam e administram as forças de segurança", disse a coalizão.
Além de sufocamentos e outras agressões, cidadãos negros são alvos frequentes dos mais diversos tipos de arbitrariedades por parte do poder público, no Brasil e no exterior, situação que desencadeou uma série de protestos pelo mundo ao longo das últimas semanas, pressionando as autoridades a tomarem medidas mais efetivas no combate ao racismo estrutural.
"O racismo sempre foi, nas mãos do Estado autoritário, a tortura. O problema é que, com a política da crueldade, da imposição, terror e genocídio dos governos neoliberais modernos, para conter a revolta contra a hiperinflação da pobreza, que é sempre racializada, mais flagrantemente em países de tradição escravocrata recente, os requintes de crueldade à luz do dia tomam contornos de campanha fascista", argumenta a ativista dos direitos humanos Dani Balbi, professora de Comunicação e Realidade Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em declarações à Sputnik Brasil.
Para a acadêmica, quando consideramos esses recentes casos de violência, o que parece é que a sociedade brasileira naturalizou o horror e "o assassinato travestido de farda e de ordem", não gastando mais "justificativa para mascarar o racismo".
"Eles, os agentes de 'segurança', ao sufocarem, estrangularem, matarem, estão, de certo modo conscientemente, cumprindo com orgulho o papel público propagandístico que o Estado da barbárie lhes reservou. São a cavalaria fotográfica do Estado burguês na sua expressão espetacularista e sanguinária", afirma Balbi.
Com Sputnik Brasil
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