A volta de Paulo Eduardo ao plenário da Câmara de Niterói
Após dois meses de uma calmaria amplificada pelo período de recesso parlamentar, a Câmara de Niterói recupera nesta quarta-feira, 15, a sua dinâmica normal com a volta ao plenário do vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL). Considerada uma das vozes mais combativas e atuantes do parlamento niteroiense, sua presença na tribuna do Plenário Brígido Tinoco - palco tradicional da política fluminense, onde funcionou a Assembleia Legislativa do Estado do Rio até a fusão com a Guanabara, em 1975 - é a garantia de debates acalorados e a certeza de que dificilmente uma matéria será votada pelos vereadores sem discussão.
Paulo Eduardo foi afastado por dois meses do mandato por decisão do diretório municipal do PSOL, depois de haver feito uma afirmação considerada pelo partido homofóbica e machista, no início de julho, durante uma discussão dura com a vereadora Verônica LIma (PT), na sala da presidência da Câmara. Na verdade, Paulo aplicou-se uma auto-punição, pois coube a ele tomar a iniciativa de pedir licença de 60 dias à Mesa Diretora, já que o partido não tem poderes legais de afastá-lo do mandato.
Mas o vereador cumpriu a correção disciplinar consciente de haver ultrapassado limites éticos e doutrinários que sempre balizaram sua atuação política. Mesmo tendo em sua longa carreira parlamentar iniciativas em defesa das causas identitárias, ele se matriculou e frequentou resignado neste período cursos voltados para a formação de uma consciência inclusivista e não discriminatória.
"Aprendi muito durante este período em que fiquei afastado do partido e do parlamento por ter acatado a deliberação partidária. Sigo aprendendo com as companheiras e companheiros LGBTQIA+ nos cursos e oficinas que tenho feito e onde tenho sido recebido também com muita fraternidade e solidariedade, justamente porque muitos que ali estão sabem do meu compromisso histórico com a defesa dos direitos humanos e contra qualquer tipo de discriminação", disse o vereador.
O episódio da discussão entre Paulo Eduardo e Verônica Lima, culminando na afirmação considerada machista e homofóbica (“se você quer ser homem, vou lhe tratar como tal”), continua gerando polêmica. Imediatamente após ter dito a frase impensada, na presença de vários vereadores que se reuniam na sala da presidência da Câmara, ele foi à tribuna pedir desculpas e se retratar publicamente com a colega.
Verônica, porém, não aceitou as escusas e chegou a registrar um boletim de ocorrência policial. Na delegacia, além da denúncia de lesbofobia, ela o acusou de tentativa de agressão. De acordo com vereadores presentes, o tom da discussão foi agressivo de ambas as partes, com dedos em riste levantados dos dois lados. Eles estavam, porém, separados por uma mesa de mais de um metro de largura e qualquer tentativa de agressão só seria possível se a mesa tivesse sido contornada ou pulada pelo potencial agressor, fato que não aconteceu.
Um movimento para denunciar a tentativa de exploração política do caso contra Paulo Eduardo se formou nas redes sociais. Mais de 600 pessoas assinaram um manifesto em que criticavam o parlamentar pela fala homofóbica, mas, em defesa da sua trajetória política, também denunciavam o oportunismo político com que o assunto estava sendo tratado.
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