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Aulas voltam em meio à insatisfação de pais e professores

Atualizado: 27 de abr. de 2021

A volta às aulas presenciais do ensino infantil nas escolas da rede municipal da Niterói, prevista inicialmente para esta segunda-feira (26/4) e adiada para terça (27/4) em razão da greve dos rodoviários, deixou pais e professores preocupados. Muitos são contrários à medida e alegam que, mesmo com o número de alunos reduzido pelo sistema híbrido (parte presencial e parte remoto), várias unidades não têm condições de receber as crianças com segurança durante a pandemia por falta de infraestrutura adequada e, principalmente, enquanto todos os profissionais da rede pública não forem devidamente vacinados.

Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

No dia 23/4, os professores foram incluídos no grupo prioritário de imunização em Niterói, mas ainda levará algum tempo até que todos estejam protegidos com a segunda dose. Nesta segunda-feira (26/4) eles definem em assembleia virtual as diretrizes da 'Greve pela Vacina e pela Vida', que já havia sido aprovada em 6 de abril como medida preventiva a ser adotada em caso de convocação para o trabalho presencial.


Servidores de várias escolas publicaram cartas abertas nas redes sociais entre os dias 21 e 23, algumas enviadas também ao Secretário Municipal de Educação, Vinicius Wu, e recorreram ao Sindicato Estadual de Profissionais de Educação (Sepe-Niterói), alertando sobre os riscos à saúde de todos, inclusive das famílias dos alunos.


Os trabalhadores da educação reivindicam que o ensino seja apenas de forma remota até que todos estejam imunizados e a situação se estabilize. Mas apontam a necessidade de dotar os alunos que não possuem internet ou dispositivos adequados, dos meios digitais para acompanhar as aulas, sem prejuízos ao aprendizado.


Entre as escolas que se manifestaram estão as unidades municipais de educação infantil (UMEI) Zilda Arns e Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes; as escolas municipais Levi Carneiro e Paulo Freire, além da EM Altivo César, cujos profissionais já haviam se posicionado contrariamente através de carta aberta no dia 2 de abril.


Todas foram unânimes em destacar o agravamento da pandemia, a perda de funcionários para a Covid-19, os riscos do contato presencial, a falta de pessoal — muitos servidores foram afastados porque são vulneráveis à doença — e as dificuldades para manter os protocolos diante da falta de estrutura adequada.


"As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, documento norteador da prática pedagógica com crianças pequenas de 0 a 5 anos, traz como eixos norteadores da prática docente as interações e brincadeiras. Torna-se impossível a construção de um trabalho de qualidade que atenda essa faixa etária respeitando os atuais protocolos sanitários", diz o texto publicado pelos profissionais de educação da UMEI Zilda Arns, que pedem a continuidade do ensino remoto.


Ainda na sexta-feira (23/4), em meio à insatisfação dos profissionais de educação, o secretário Vinicius Wu e o Presidente da Fundação Municipal de Educação (FME), Fernando Cruz, visitaram três escolas da rede: UMEI Professora Nina Rita Torres, em Piratininga; EM Levi Carneiro, no Sapê; e UMEI Darcy Ribeiro, em Charitas. O objetivo da visita, segundo ele, foi dialogar com as direções e profissionais de educação sobre o planejamento para o ano letivo e os planos locais de reabertura das escolas no sistema híbrido.

Secretário de Educação e presidente da FME em visita à escola /Divulgação, Prefeitura

De acordo com o secretário, desde o início de 2021 já foram visitadas mais de 50 unidades do município, e ele considera as visitas importantes para ampliar o debate sobre a educação de Niterói.


"Estamos ouvindo e mantendo diálogo com a comunidade escolar, acompanhando a implantação dos planos locais de cada unidade. Precisamos garantir um ensino público de qualidade, no formato híbrido ou remoto", afirmou.


Na direção contrária, os profissionais reclamam justamente da falta de um debate mais amplo e prévio entre os servidores das escolas e a Secretaria Municipal de Educação para que problemas estruturais pudessem ser resolvidos antes da volta às aulas presenciais.


"A reabertura das UMEIs para atividades presenciais nas condições atuais será um massacre, levando muitos de nós a se contaminarem e morrerem. Os mesmos riscos terão nossos familiares e familiares das crianças, lembrando que elas necessitam do acompanhamento de adultos para chegar até a UMEI, e muitos usam transporte público", diz a carta dos servidores da unidade infantil Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes.


O presidente da Fundação Municipal de Educação, Fernando Cruz, garantiu que a prefeitura realizou "um planejamento consistente no Plano de Retomada das Aulas, incluindo todas as medidas necessárias para a segurança dos alunos e profissionais da rede".

"Já distribuímos todos os materiais de proteção individual e equipamentos de uso coletivo, como máscaras, face shields, álcool em gel, tapetes sanitizantes e lixeiras com pedal. Além disso, todas as escolas passaram por um processo de sanitização e foram higienizadas pelas equipes da Clin", disse.


De acordo com a prefeitura, as escolas também passam por obras de manutenção, reforma e adequação dos ambientes internos e externos para que o ensino híbrido seja iniciado nesta terça-feira (27/4). Porém, muitos dos problemas de infraestrutura relatados nas cartas divulgadas pelos profissionais de educação, e que dificultam a implementação dos protocolos sanitários, até agora não foram resolvidos.

Foto: Divulgação / MCTIC

Ensino remoto


Não apenas professores são contrários à volta de aulas presenciais nesse momento. Os pais dos alunos também estão apreensivos. É o caso de Luiz Fernando Conde Sangenis. Além de ter uma filha matriculada na rede, ele é representante dos pais no Conselho Municipal de Educação. Luiz Fernando, que é professor universitário, enviou uma longa carta ao secretário Vinicius Wu, falando dos riscos das aulas presenciais e apontando as falhas que o ensino remoto tem apresentado desde quando foi adotado, no ano passado.


A principal delas é a instabilidade da Plataforma Niterói em Rede, criada para a transmissão das aulas. Muitos professores, segundo ele, desistiram de usar a plataforma e preferem dar aulas pelo "Google Meet".


"O serviço é contratado. A educação não pode ser plenamente pública quando os meios são privados. É preciso garantir imediatamente as condições essenciais para o acesso ao ensino remoto. O funcionamento da máquina pública, processos licitatórios e demais trâmites típicos da burocracia e da administração públicas não podem mais ser utilizados como álibi. Afinal, a pandemia começou no ano passado e o governo atual é de continuidade", defende.


Luiz Fernando conta que há alunos que usam o wi-fi de mercados e farmácias, pois não têm internet. Segundo ele, cerca de 30% dos estudantes da rede municipal não contam com o serviço.


B.(*), que perdeu o pai recentemente e cuja família teve que sair da casa onde morava, é uma dessas crianças. Ela e o irmão A. são ótimos alunos. A mãe é trabalhadora doméstica e faz faxina três vezes por semana. O único celular que atendia aos irmãos quebrou. Quando a mãe sai para trabalhar, as crianças ficam na casa da avó, onde não há sinal de internet.


A falta de acesso às aulas virtuais também é um problema para E., que veio para o Brasil com a família refugiada da Guiné, na África. Ele e o irmão desistiram do ensino remoto. Quando conseguem entrar na rede, os colegas comemoram, mas logo a conexão cai e os meninos acabam excluídos do processo educativo.

Luiz Fernando Sangenis / Arquivo pessoal

Luiz Fernando diz que vários pais que conhece não pretendem mandar seus filhos à escola, e que optaram pelo ensino remoto. Porém, existem famílias que são pressionadas por não possuir equipamentos e banda larga. Ele também destaca a falta de treinamento dos profissionais de educação para a adoção de protocolos de saúde, além de capacitação pedagógica para o ensino a distância.


"A prefeitura teve mais de um ano para organizar a volta ao presencial, mas não tomou as providências com a antecedência necessária. Os professores estão se saindo muito bem, alguns deles improvisando as aulas como podem, pois ainda não receberam os aparelhos prometidos. Não somos contra o governo municipal, queremos somar esforços. A sociedade precisa abraçar suas escolas. E os CECs (Conselhos Escola-Comunidade) precisam voltar a funcionar, pois as escolas precisam incluir a participação das famílias no processo", defende ele.

(*) Os nomes das crianças foram preservados.

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