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De volta às trevas: as sombras da volta de Trump

Por Axel Grael


Como dizia o Barão de Itararé, "... de onde menos se espera, dai é que não sai nada mesmo..."!


O novo mandato do Trump começou da forma esperada. Quando saiu o resultado do estranho processo eleitoral nos EUA, já sabíamos que viriam recuos criminosos nas agendas do clima, da sustentabilidade, dos direitos humanos, da paz, do comércio justo etc. Trump já havia feito isso antes, disse que faria novamente e já está cumprindo o que prometeu.

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Talvez, a única vantagem - se é que algo de bom possa ser visto ali - é que Trump e sua turma resolveram rasgar a fantasia e estão sendo mais explícitos do que nunca. No evento de posse, o deslumbrado bilionário-patrocinador-amigo e agora ministro Elon Musk fez a saudação nazista, enquanto o filho de Trump fez sinais suspeitos com as mãos até ser reprimido pela própria esposa. E o presidente fez um discurso ainda mais radical que o habitual. Trump reiterou as ameaças contra os países vizinhos (Canadá, México e até a Groelândia e Panamá) e, mais uma vez, com o seu discurso xenofóbico sobrou como sempre para os imigrantes.


Em entrevista, ao ser perguntado se ajudará a reconstruir Gaza, disse que "pode ser que sim" ("I might...!") e completou: "... vi numa foto que Gaza está toda destruída e precisará ser reconstruída. Mas, é um lugar na beira do mar. Dá para fazer muitas coisas interessantes lá!" Trump enriqueceu com negócios imobiliários. Deve estar pensando em resorts e não em refazer a cidade para os próprios milhares de desabrigados palestinos. Perguntado sobre a relação com a América Latina, desdenhou e disse: "Não preciso deles. Eles precisam de nós!"

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O presidente que retorna já se manifestou a favor do estímulo do comércio de armas e também delimitou a sua percepção de mundo, bradando: "Só existem dois gêneros: masculino e feminino!"


O governo Biden foi um fracasso, mas teve alguns avanços importantes na agenda do Clima, Transição Energética e Sustentabilidade.


Trump já anunciou que vai retirar os EUA novamente do Acordo de Paris, vai revogar todas estas medidas de Biden e com relação às limitações impostas à exploração de petróleo em lugares ambientalmente vulneráveis, disse que a sua regra será: "Drill, drill, drill!" ("Perfura, perfura, perfura!"). Ainda anunciou a retirada de todas as prioridades para a eletrificação da frota de veículos e mais outras vilanias contra o planeta.


Toda esta atitude de radicalização pode inflamar os seus seguidores mais radicais, mas aumenta as dissidências. As fichas começarão a cair para muita gente que acreditou na retórica de Trump.


Se os ambientalistas não estão surpresos com o que está acontecendo, passamos a imaginar o impacto sobre outros grupos da sociedade:


- O que estará pensando a parcela pró-Trump dos judeus, sempre tão influentes na política americana, sobre a atitude do bilionário-ministro fazendo a saudação nazista?


- O que estarão pensando as minorias que ao longo do tempo conquistaram com muita luta as políticas afirmativas de inclusão? O que os cidadãos americanos negros, das muitas minorias étnicas, deficientes etc. estarão pensando, diante da ameaça de voltar para o segundo plano social, diante de um presidente que diz que agora "será tudo pela meritocracia". Aliás, prática que ele prega, mas não adotou na escolha do seu ministério. Sua equipe é composta pelo simbólico Musk - um estranho no ninho no que se refere a politicas públicas, mas que aportou muitos milhões de dolares na campanha de Trump. Além dele, outros doadores de campanha e amigos ganharam posições-chave no governo mais poderoso do mundo sem que se reconheça o excepcional mérito dessas pessoas para o cargo.


- O que o mundo todo está pensando de um chefe da nação mais poderosa do mundo ter arroubos xenófobos e até expansionistas sobre países vizinhos como Canadá, México, Groelândia (Dinamarca) e até o Panamá?

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Trump é o oposto do estadista. O estadista fala para o mundo. Trump só fala para os seus. Seu discurso nunca foi tão direcionado para a sua própria tropa e também nunca foi tão agressivo, irresponsável, sectário e excludente. Com isso, acredito que a tropa trumpista perderá preciosos batalhões, o que no equilíbrio da atual polarização mundial, poderá reforçar o lado dos que clamam pela ética e pela democracia.


Acompanho a agenda climática mundial e sei que na gestão anterior de Trump, houve uma paralisia da agenda por obra do boicote da diplomacia americana. Vejo dificuldades pela frente, mas Trump não é mais novidade e acredito que as mesas de negociação climáticas saberão como lidar melhor com a atitude americano sob o negacionismo trumpista. Os EUA sao fortes mas não são donos do mundo e o mundo sabe disso. Acredito que podemos ter uma reação de uma nova geopolítica climática, isolando os EUA. Outros paises podem assumir o protagonismo. Europa, China? Vamos ver...


Por um lado, a hegemonia de Trump no Congresso dos EUA (Senado e Câmara) preocupa pois o contraponto legislativo está comprometido e as leis também podem retroceder. Mas, uma coisa podemos ter certeza: ainda haverá muita disputa judicial e muita confusão pela frente.


No final, passado o pesadelo, o retrocesso civilizatório será derrotado pelo bom senso da democracia, da ciência e da boa política. Resta saber o tamanho do estrago e quanto custará a restauração. Infelizmente, possivelmente só as próximas gerações terão as respostas.


*Axel Grael é engenheiro ambiental, ambientalista e ex-prefeito de Niterói



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