Gastos com propaganda cloroquina chegarão a R$ 13 milhões
O governo já gastou pelo menos R$ 6,1 milhões em campanha para estimular o uso de remédios sem comprovação científica no tratamento precoce contra a Covid-19. De acordo com o portal Congresso em Foco, o próprio governo admitiu que as despesas com a propaganda podem chegar a R$ 13 milhões.
A campanha, coordenada pelo Ministério das Comunicações (comandado pelo ministro Fábio Faria, genro de Silvio Santos) e que orientava a população a usar conjunto de remédios sem eficácia contra a Covid-19, foi veiculada entre 16 de novembro e 30 de dezembro do ano passado, em rádio, programas de TV e outdoors.
O montante foi para a agência Calia/Y2, responsável por produzir as peças e negociar a transmissão da campanha em rádios e TVs brasileiras. Além disso, foram utilizados locais ao ar livre para veiculação do material, como pontos de ônibus e outdoors.
Com a dedução de impostos, a agência - que é comandada por Gustavo Mouco, irmão de Elsinho Mouco, ex-marqueteiro de Michel Temer - já recebeu R$ 5,99 milhões.
O presidente Jair Bolsonaro é um defensor do uso da cloroquina e outros remédios, como a ivermectina, no tratamento precoce para a Covid-19. Após a saída de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich do Ministério da Saúde, o governo publicou um protocolo defendendo a utilização da cloroquina como tratamento precoce contra o coronavírus.
A Anvisa e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), assim como a Organização Mundial da Saúde, condenam o tratamento precoce para Covid-19.
Maior repasse para TV Record
O maior repasse feito pela agência, de acordo com o portal, foi destinado à TV Record. O valor destinado à emissora foi de R$ 1,31 milhão.
A lista de emissoras, disponível na base de dados do governo federal, indica que a pasta gastou R$ 741 para veicular a campanha na Alvorada FM, de Parintins, Amazonas; outros R$ 2.316 foram para a Boa Vontade FM em Manaus; e R$ 2.394 para a Aleluia FM. Para veicular as campanhas na Super Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, foram quase R$ 73 mil.
R$ 385 milhões após Dilma e R$ 1,5 bi com a Calia
Ainda de acordo com a reportagem, todas as notas fiscais relativas a esta campanha de tratamento precoce foram pagas à mesma empresa: a Calia/Y2 Propaganda e Marketing.
Através de um acordo firmado em dezembro de 2016, três meses depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT), a agência Calia vem aumentando, ano a ano, a sua conta com o governo federal. No primeiro ano, o contrato previu o pagamento de R$ 55 milhões. O contrato já teve cinco aditivos nos anos seguintes. O mais recente, firmado em dezembro do ano passado, o valor é de R$ 66 milhões.
A agência aparece, no Portal da Transparência como ganhadora de outros quatro contratos de órgãos federais, prestando R$ 1,5 bilhão em serviços de publicidade ao governo federal. Apenas um destes contratos, fechado com a Presidência da República, deve render R$ 728 milhões ao grupo.
Ainda segundo o Congresso em Foco, há contratos que, inclusive, passam por baixo do radar da Transparência. A mesma Calia foi a vencedora de um certame de R$ 27 milhões com a Embratur, ligada ao Ministério do Turismo. A escolha da empresa ocorreu sem licitação.
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