Governo usou Fiocruz para produzir mais cloroquina
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) gastou R$ 70,4 milhões para a produção de quatro milhões de comprimidos de cloroquina e também de fosfato de oseltamivir (Tamiflu), medicamentos sem eficácia contra a Covid-19. O dinheiro que financiou a produção partiu da Medida Provisória nº 940, editada em 2 de abril de 2020 pelo presidente Jair Bolsonaro, em uma ação destinada ao combate da Covid-19. A informação foi publicada nesta quinta-feira (11) na Folha de S. Paulo.
Tanto a cloroquina (hidroxicloroquina) como o Tamiflu foram direcionados ao tratamento de pacientes diagnosticados com a doença, apesar de a Anvisa, as principais agências internacionais de saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicarem, desde o ano passado, que a cloroquina não tem eficácia contra o novo coronavírus.
A medida provisória assinada por Bolsonaro abriu um crédito extraordinário, em favor do Ministério da Saúde, no valor de R$ 9,44 bilhões. Desse total, foram destinados R$ 457,3 milhões para a Fiocruz, que é vinculada à pasta, com o objetivo de enfrentar "a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus", diz os documentos enviados pelo Ministério da Saúde ao Ministério Público Federal (MPF) em Brasília.
De acordo com o jornal, foram gastos R$ 70,4 milhões pela Fiocruz para a produção dos medicamentos para atender a uma demanda estimulada pelo ministério para uso de cloroquina em tratamento precoce contra a Covid-19 a partir de orientação de Jair Bolsonaro, conforme publicamente divulgado pelo próprio presidente.
"Farmanguinhos (instituto responsável pela fabricação de medicamentos da Fiocruz) produz cloroquina somente para o que está previsto em sua bula. A bula descreve que a cloroquina é indicada para profilaxia e tratamento de ataque agudo de malária e no tratamento de amebíase hepática, artrite, lúpus, sarcaidose e doenças de fotossensibilidade", disse a fundação ao jornal.
Dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) divulgados no ano passado mostram que o consumo de cloroquina pelos brasileiros cresceu 358% durante a pandemia, sem que tenha havido algum surto de malária ou de outras doenças indicadas na bula do remédio.
A Fiocruz é a responsável pela importação e produção de parte da vacina da Oxford/AstraZeneca, conforme contrato assinado com a farmacêutica anglo-sueca em julho do ano passado, no valor total de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão), incluindo a transferência de tecnologia da vacina para o Brasil.
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