Militares impediram o golpe de alguns militares no Brasil
O relatório final da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 não deixa dúvidas quanto aos principais personagens do oficialato militar do entorno de Jair Bolsonaro (PL) que teceram a trama golpista, mas também graças à posição firme e legalista do general Marco Freire Gomes, então comandante do Exército, e outros seis militares que impediu a consumação do golpe, mantendo a ordem institucional no Brasil.
Na primeira semana de novembro de 2022, o general da reserva Mário Fernandes enviou uma carta ao então comandante do Exército, pressionando por um golpe que impedisse a posse do presidente Lula (PT) e mantivesse Bolsonaro no poder. O conteúdo, enviado por WhatsApp e repassado a generais do Alto Comando, é uma das peças centrais no relatório.
No texto de dez parágrafos, o general da reserva conclama Freire Gomes a agir e enfatiza a urgência do momento: “É agora ou nunca mais, COMANDANTE, temos que agir! E não existe motivação maior do que a proteção e o futuro desta Grande Nação e de seus filhos… Os nossos filhos!”, escreveu Fernandes no final da carta.
O comandante considerou a carta inaceitável e chegou a cogitar prender o oficial general golpista, mas recuou da punição temendo repercussões políticas e por considerar que a reação de Bolsonaro seria inesperada.
De acordo com o relatório da PF, pouco mais de uma semana depois da eleição presidencial - mais precisamente em 7 de dezembro de 2022 -, a primeira minuta golpista foi apresentada por Bolsonaro aos comandantes do Exército, Marinha e Defesa.
Na ocasião, Freire Gomes, segundo depoimento à PF, disse que não iria dar suporte armado ao plano e ainda ameaçou prender Bolsonaro se o ex-presidente tentasse consumar o plano golpista.
O relatório final da investigação conduzida pela PF aponta que o ex-presidente só não assinou um decreto golpista porque não conseguiu o apoio do comando do Exército, da Aeronáutica e de pelo menos outros cinco militares.
"A resistência dos comandantes do Exército e da Aeronáutica impediu a consumação do ato", diz o relatório da PF.
São eles (todos à época dos fatos), segundo o g1:
Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército;
Carlos de Almeida Baptista Jr., comandante da Força Aérea Brasileira (FAB);
Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, general do Comando Militar Sudeste;
Richard Nunes, comandante militar do Nordeste;
André Luís Novaes de Miranda, ex-general do Comando Militar do Leste;
Guido Amin Naves, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia da Força Terrestre;
Valério Stumpf, comandante do Estado-Maior do Exército.
O general da reserva Mário Fernandes, preso preventivamente desde 19 de novembro, e Jair Bolsonaro (capitão da reserva) estão entre os 37 indiciados pela PF por participação na tentativa de golpe. Ao todo, 25 são militares e seis são generais. O caso agora está com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se arquiva, pede mais investigações ou apresenta denúncias formais.