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Niterói perde o intelectual Roberto dos Santos Almeida

A educação e a cultura de Niterói perderam, na noite desta terça-feira (8/3), um de seus mais ardorosos defensores. Morreu o professor, pedagogo e escritor Roberto dos Santos Almeida, aos 84 anos, deixando um legado de realizações nestas áreas, além de muita saudade para quem teve a chance de conviver e aprender com o mestre. Roberto foi um dos fundadores do Instituto GayLussac, onde também lecionou; e ocupou a cadeira de professor em diferentes instituições de ensino da cidade, entre elas, o Liceu Nilo Peçanha e a Universidade Federal Fluminense (UFF), onde ingressou por concurso em 1985 na disciplina Biologia e Educação.

Reprodução

Amante dos livros e do conhecimento, compreendia a cultura como principal instrumento de resistência de um povo a guerras, invasões, pestes, fatalidades e tragédias.


“Uma nação construída com base na educação e na cultura torna-se invulnerável a todos os ataques”, disse em 2012, quando ganhou o título de Intelectual do Ano outorgado pela Livraria Ideal e Grupo Mônaco de Cultura, em Niterói.


Sua grande paixão foi a poesia. Roberto Almeida era um profundo conhecedor da obra do poeta português Fernando Pessoa. Como escritor e cronista, adotou o pseudônimo de Fernando de Avis, provavelmente inspirado por Pessoa e seus heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Essa relação intensa com a escrita e a poesia — e também com a arte de declamar poemas — está presente nos depoimentos de despedida daqueles que o conheceram mais de perto.


"Ele foi um mestre, educador, escritor e me ensinou muito sobre educação de vanguarda, gestão escolar, educação por exemplos e atitudes, ética. Professor Roberto formou gerações na cidade e deixará saudades pela sua brilhante oratória e pelo profundo estudioso que era de Fernando Pessoa. Eu só tenho a agradecer pelos 28 anos de aprendizagem lado a lado, de modo generoso", disse Luiza Sassi, que foi aluna, colega de docência e, mais tarde, o sucedeu na direção do Instituto GayLussac.

"Uma grande perda também do escritor Fernando de Aviz, que nos encantava com suas crônicas. O GayLussac está triste por tê-lo perdido e os céus já estão ouvindo suas declamações. A mim, fica a última declamação que me fez: 'Não sou nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo'".


A professora Márcia Pessanha, dos departamentos de literatura e educação da UFF, ex-presidente Academia Niteroiense de Letras e secretária-geral da Academia Fluminense de Letras, também lembrou da oratória como traço marcante do colega e de seu talento inigualável como declamador.


"Roberto dos Santos Almeida, o Fernando de Avis, é o nosso Fernando Pessoa da literatura fluminense. Escritor com vários ensaios e artigos no jornal O Fluminense, foi um ótimo professor. Todos os alunos gostavam demais dele na faculdade de educação da UFF. E também como acadêmico da Academia Fluminense de Letras e da Academia Niteroiense de Letras, espaços de nossa convivência. Sempre com sua elegância e oratória invejáveis, deixava rastro de sua luminosidade cognitiva por onde passava. Declamava Fernando Pessoa como ninguém. Sentíamos mesmo como se estivéssemos diante de Pessoa. Sua ausência física é muito dolorida para todos nós, mas será minimizada pelo legado cultural que ele deixa como lembrança de sua gloriosa passagem", disse ela.


Márcia Pessanha citou versos do 'Cancioneiro', de Pessoa, como homenagem:


"É brando o dia, brando o vento

É brando o sol e brando o céu.

Assim fosse meu pensamento!

Assim fosse eu, assim fosse eu!


Mas entre mim e as brandas glórias

Deste céu limpo e este ar sem mim

Intervêm sonhos e memórias...

Ser eu assim, ser eu assim!" (...)

Reprodução

A carreira


Bacharel em Ciências Biológicas e Geológicas (1962), Roberto Almeida dedicou-se à administração escolar e em 1988 concluiu mestrado em Educação na área de psicopedagogia. Foi Secretário de Educação e Cultura de Niterói (1982), presidente do Conselho Municipal de Cultura de Niterói (1982), vice-diretor do Centro de Estudos Sociais Aplicados – CES/UFF (1986 a 1990), diretor pedagógico do Complexo Educacional Gay-Lussac (1988), diretor pedagógico, diretor acadêmico e diretor de Ensino e Pesquisa dos colégios e faculdades do Grupo Gay-Lussac (a partir de 1988) e assessor do reitor da UFF (de 1986 a 1990, e a partir de janeiro de 1996). Integrou diferentes comissões de educação e cultura, como a da Eduff (editora de livros da UFF (1995); foi conselheiro de cultura de Niterói (1987) e proferiu um sem número de palestras e cursos ao longo da carreira.


Mas foi na literatura que sua alma de poeta e escritor aportou. Cronista do jornal O Fluminense, publicou ainda vários livros didáticos de biologia e a 'Biografia de Antônio Vieira de Macedo – jornalista e pensador livre' (1962). Sob o codinome Fernando de Aviz, escreveu duas obras: Você já teve um amor atravessado? (1983) e Estatutos do Sexo (1983).


Roberto Almeida era integrante da ANL (Assiação Nacional de Livrarias), e membro da Academia Fluminense de Letras, Academia Fluminense de Educação, Elos Clube de Niterói e Centro da Comunidade Luso-Brasileira do Estado do Rio de Janeiro.

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