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Os interesses de Musk na Alemanha

Eduardo Vasco


Todo empresário de sucesso tem um bom faro. Ele se orienta para onde irá lucrar mais. Como um capitalista que é, Elon Musk não passa de um grande oportunista. Percebe a insatisfação popular com os governos europeus e o regime político da União Europeia e sabe que a tendência é que sejam derrubados. Sabe que seu dinheiro e poder podem influenciar esses eventos. Quer preencher o vazio que ficará – e lucrar com isso.


Não é à toa que a Alemanha seja o país mais alvejado pelo homem mais rico do mundo. A extrema-direita é a força em maior ascensão dos últimos anos e o AfD, enquanto promete acabar com a imigração e agrada a muitos desempregados e assalariados pobres, quer enxugar o Estado, reduzir os impostos à riqueza e desregulamentar o “mercado” para facilitar uma reindustrialização que contraria interesses na transição energética.


O regime político dominado pelos conservadores e os social-democratas – o neoliberalismo totalitário disfarçado de democracia liberal – comprovou-se absolutamente falido. Os próprios industriais alemães, afetados com as políticas dos últimos 20 anos, sinalizam que preferem um modelo mais duro. A política do AfD não é mais tão repudiada. Se for possível aplicá-la plenamente, seria ótimo para eles. A grande preocupação – que é compartilhada pelos outros setores da burguesia alemã, incluindo os bancos – é que um governo do AfD aprofunde sobremaneira a crise política e social.


Por outro lado, o grande capital internacional, em especial o norte-americano, preocupa-se em manter intacta a mesma ordem estabelecida no pós-Guerra: deixar a Alemanha submetida ao seu estrito controle. A burguesia “liberal” acusa Musk de interferir na política do país, como se a Alemanha fosse uma nação realmente independente e não sofresse a interferência política, econômica, cultural, ideológica e militar dos Estados Unidos há 80 anos.


O bilionário tem interesses em comum com os empresários que estão migrando para o AfD. A primeira e maior fábrica da Tesla na Europa, com 12.000 empregados, fica justamente na região de Berlim. Ela quer dobrar de tamanho e a atual legislação ambiental pode ser um empecilho. A Alemanha também tem a 7ª maior reserva de lítio do mundo e a maior da Europa, muito à frente dos outros estados europeus (US Geological Survey, 2023). Além disso, a demagógica defesa da liberdade de expressão por parte do AfD serve aos interesses de Musk para manter e aprimorar as atividades do X, em um momento em que a rede social trava uma batalha judicial sobre supostas violações das leis alemãs.


As escaramuças judiciais com o X estão espalhadas por toda a União Europeia. E também no Reino Unido, onde Musk tem igualmente interferido ao atacar o primeiro-ministro Keir Starmer e prometer uma doação de 95 milhões de euros ao direitista Nigel Farage. Lá, o X poderia perder até 10% de todos os lucros globais anuais, caso a justiça o considere culpado por desinformação e discurso de ódio.


Uma ação contundente da União Europeia e de governos de nações poderosas da Europa certamente poderia influenciar outros países a imporem pesadas multas e legislações que contrariem os interesses e os planos de Musk com o X. Ele precisa evitar que isso aconteça.


O apoio à extrema-direita é, também, uma chantagem para obrigar os atuais governos europeus a fazerem concessões a Musk. O patrão mais poderoso do mundo tem mesmo o poder de dizer a seus funcionários: “façam isso, se não vou demiti-los. A fila anda!” Não é muito diferente do tom adotado pela diplomacia de Donald Trump.


Musk tem atrás de si uma camada crescente da burguesia internacional, proveniente não apenas dos novos ramos tecnológicos, mas inclusive do tradicional complexo industrial-militar e dos bancos. Todos percebem que o neoliberalismo “soft”, mesclado com carcomidas instituições “democráticas”, está com seus dias contados.


Mas as contradições internas, que já são grandes, não demorarão a se aprofundar violentamente, mesmo que em breve os alemães consolidem sua aliança com Musk. Afinal de contas, o crescimento alemão elevaria o nível da competitividade de suas empresas e de sua indústria – cuja automobilística é um símbolo internacional. 


A Tesla conseguirá conciliar seus interesses com os das montadoras alemãs por muito tempo? Os capitalistas alemães, atrás dos americanos e chineses na corrida pela tecnologia de ponta, semicondutores e IA, vendo sua economia reflorescer, aceitarão continuar submetidos como estão há 80 anos? No caso de um renascimento da indústria alemã, ela suportará os limites fronteiriços ou passará a significar uma ameaça ao predomínio econômico dos EUA?


Esses são alguns dos temores da burguesia “liberal” internacional e alemã (vassala daquela). Musk precisa servir para manter a Alemanha submetida, e não para que o tiro saia pela culatra.


Eduardo Vasco é jornalista e colaborador do TODA PALAVRA. Foi correspondente de guerra na Ucrânia, cobrindo o conflito do lado russo.

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