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Paulo Eduardo Gomes, identidade e respeito

EDITORIAL

O Diretório Municipal do PSOL anunciou neste final de semana a suspensão por 60 dias do mandato do vereador Paulo Eduardo Gomes, acusado de cometer ato "racista, lesbofóbico e machista". O ato punitivo do partido frustra, na prática, os 3.978 eleitores que votaram nele e afasta por dois meses da Câmara de Niterói um dos mais combativos e respeitados vereadores da história da cidade, com quase 20 anos de ilibada atuação parlamentar.

Paulo Eduardo não é racista ou lesbofóbico, apesar da frase infeliz proferida, de forma impensada, no calor de uma discussão ocorrida na presença de vários vereadores, na sala da presidência da Câmara, na última quarta-feira, 7 de julho. Do machismo, cujo germem todos nós, homens e mulheres nascidos nesta sociedade, carregamos no íntimo, este senhor de 70 anos vem dando provas de ser um tenaz combatente.

São de autoria dele algumas das leis municipais que mais reafirmam a igualdade e o direito à identidade de gênero, como a que reconhece a união estável de casais do mesmo sexo para fins previdenciários dos servidores municipais.

O caráter sanguíneo da personalidade do vereador Paulo Eduardo é uma das suas mais conhecidas características. A forma acalorada, mas sempre respeitosa com que defende suas posições, sendo ele um campeão até hoje imbatível de presença na tribuna da Câmara, bem como de proposiões legislativas, o tornaram, segundo o julgamento dos eleitores, uma voz imprescindível no parlamento niteroiense nas últimas duas décadas.

Por um deslize, porém, acusadores, dedo em riste, lançam por terra a reputação política construída sem nódoas em 40 anos de militância de esquerda, mesmo diante do imediato pedido de desculpas do vereador. Logo após a discussão com a vereadora Verônica Lima (PT), Paulo Eudardo caiu em si e apresentou suas desculpas formais da tribuna da Câmara, em autocrítica reproduzida também através de suas redes sociais.

A edição do TODA PALAVRA do dia sequer deu relevância, pelo contexto, à frase proferida dentro de uma sala facheda, diante da pronta reparação do ofensor. Mas o que deveria ser tratado como um erro corrigido imediatamente, com as escusas próprias da grandeza humana, foi transformado em fato político. A vereadora não só negou as desculpas como registrou um boletim de ocorrência policial e difundiu a versão de uma tentativa de agressão negada por Paulo Eduardo e não confirmada pelos demais presentes até agora.

Os atos reprováveis do vereador bolsonarista Douglas Gomes, este sim, declaradamente homofóbico, que por diversas vezes insultou mulheres e gays e afrontou o regimento interno da Câmara de Niterói, inclusive com atitudes intimidatórias, como a exibição de arma de fogo nas dependências da casa, até hoje estão impunes. Mesmo diante de evidências de quebra de decoro parlamentar, os membros da Comissão de Ética, incluindo os representantes do PSOL, em conversas de bastidores, não cogitam suspender o mandato do bolsonarista. Quando muito, uma advertência, se é que haverá.

Mas um foro de menor expressão representativa da sociedade decide suspender por 60 dias o mandato de Paulo Eduardo Gomes, afastando, ainda em um momento grave da crise sanitária do coronavírus, o vereador que, ocupando a presidência da Comissão de Saúde da Câmara - da qual também está sendo afastado -, demonstrou ter sido, mesmo na oposição, um dos mais importantes atores políticos no combate à pandemia na cidade.

Questionável do ponto de vista democrático e dos interesses da cidade de Niterói, a decisão do diretório do PSOL abre um perigoso caminho para vendetas políticas pelo uso oportunista das causas identitárias. A reputação de um homem é maior do que uma frase impensada e prontamente renegada. O direito à identidade caminha junto com o respeito à história de cada um de nós.

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