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Senador petista faz coro com mídia imperialista. Até tu, Randolfe?

Luiz Augusto Erthal


Vivemos em um tempo estonteante, capaz de desnortear até mesmo alguns dos mais lúcidos e honestos atores políticos. Afinal, não são todas as gerações que têm a oportunidade de testemunhar a desastrosa - sempre dramática, lenta e sangrenta - queda de um império. Assistimos, hoje, ao nascente mundo multipolar - simbolicamente representado pelos BRICS - e ao inevitável ocaso do poder geopolítico colonial do Ocidente, que agoniza no desespero e na ignomínia de suas últimas trincheiras: a guerra perdida na Ucrânia; o genocídio do povo palestino em Gaza, praticado pelo supremacismo sionista; e, agora, o feroz - e renovado - ataque estadunidense contra a Venezuela, baseado no princípio da doutrina Monroe que definiu, no século passado, a América Latina como curral dos caubóis do Norte.


Senador Randolfe Rodrigues - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O Senador petista Randolfe Rodrigues, líder do Governo no Congresso, é um desses atores que surpreende ao pretender equiparar Maduro a Bolsonaro, quando não há qualquer nível possível de comparação entre o presidente venezuelano, sucessor de Hugo Chaves na liderança da Revolução Bolivariana, democrática e anti-imperialista, e o ex-presidente brasileiro, marcado por sua vassalagem aos EUA, ao neoliberalismo e por suas confessas simpatias às ideias nazistas. A surpreendente comparação não faz jus ao currículo de lutas do combativo senador, conhecido por suas firmes posturas contra o golpismo no Brasil, pela defesa da integração latino-americana, inclusive por sua identidade de posições com o presidente Lula na defesa de uma cooperação entre os países do Tratado da Bacia Amazônica.

Surpreende, também,  porque, sendo representante de um estado amazônico, o senador pelo Amapá parece esquecer o gesto do presidente Maduro, que, durante a pandemia, deu um espetacular exemplo de solidariedade ao mundo, enviando ao Amazonas uma caravana de carretas com oxigênio para salvar milhares e milhares de vidas da população de Manaus, cidade então transformada em cemitério a céu aberto, quando o governo Bolsonaro negou aos amazonenses aquela que era a única possibilidade de escapar da morte pela Covid.

Não é demais lembrar que, àquela altura, o governo legítimo da Venezuela, sob a presidência de Maduro, para vergonha profunda do Itamaraty e das tradições da diplomacia brasileira, foi achincalhado por Bolsonaro ao reconhecer o autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó - com o apoio dos mesmos que hoje reconhecem, sem qualquer prova ou base de legitimidade, a autoproclamada vitória da extrema direita, que agora recorre, mais uma vez, ao golpismo e à negação da democracia.

Mas, enquanto Maduro salvou milhares de vidas brasileiras na Amazônia, com a doação de oxigênio solidário bolivariano, negado por Bolsonaro que ignorou a pandemia, insultou a ciência e a China, que nos enviou vacinas, o senador Randolph não contribui, agora, para a boa informação da sociedade sobre as eleições no país vizinho, endossando a guerra comunicacional que os grandes oligopólios da desinformação, teleguiados pelos EUA, desataram contra a democracia na Venezuela, preparando um golpe de estado naquele país.

É ilógico comparar personalidades políticas tão antagônicas. Enquanto Maduro não privatizou uma gota de petróleo sequer - razão essencial do ódio que lhe movem as potências imperialistas -, Bolsonaro privatizou a BR Distribuidora, montada no governo de Geisel, o mesmo que disse que o então capitão terrorista era “um mau militar”. Mesmo diante da trágica privatização da Eletrobrás pelo governo anterior, Randolfe esgrima uma incoerente linha de análise, tentando igualar um privatista selvagem como Bolsonaro a um presidente de linha socialista e estatizante que, aliás, recém criou mais uma empresa pública de siderurgia para o desenvolvimento soberano das enormes jazidas desse minério que a Venezuela possui na região do Orenoco. E o senador amapaense já fez corajosas críticas à privatização neoliberal da Vale do Rio Doce, criada na Era Vargas. Além disso, Randolf não registrou a diferença entre o presidente da Venezuela, onde o ouro está sob controle de empresa estatal, muito embora já criticara, corajosamente, Bolsonaro por suas estranhas relações com operações ilegais de garimpeiros que exploram e contrabandeiam o ouro brasileiro, sem que o Estado nacional tenha o seu controle e sem que o povo brasileiro dele seja beneficiado. 

O que pretende o líder do governo no Congresso ao fazer essa lamentável acrobacia  sociológica, escorregando na trave, e caindo do lado das forças reacionárias opostas à integração latino-americana, e, em particular, terminando por oferecer munição, involuntariamente, aos conservadores que querem separar o Brasil da Venezuela, exatamente o país que pode ser o parceiro mais leal do Presidente Lula no Mercosul e no atendimento do seu chamado para uma eventual  reconstrução da Unasul? Será a ideia de separar dois governos membros do Tratado de Cooperação da Bacia Amazônica, coerente com a defesa que o governo Lula tem feito para integrar a região? É plausível que os magnatas da mídia regalem a estas surpreendentes comparações algumas migalhas transitórias de espaço, o que atenderia aos interesses de uma gigantesca operação, sediada em Miami, na qual todos os veículos a serviço do império, os Diários das Américas,  amplificam todo e  qualquer discurso ou manifestação, como a de Randolfe,  manipulando-as para que lhes sirva ao objetivo intervencionista na Venezuela. É suposto notar, por sua notável trajetória política, não ser este o objetivo do combativo senador amapaense.

Será que o líder do Governo no Congresso não teria assistido à entrevista do presidente Lula, reivindicando que cesse toda ingerência externa sobre a Pátria de Bolívar? Será que Randolfe não estaria informado, como líder do Governo no Congresso, que, enquanto Bolsonaro é amigo de Netanyahu e defensor do sionismo, além de que seus filhos fizeram cursos no Mossad, o governo do presidente da Venezuela, por sua vez, não mantém relações diplomáticas com Israel, e, junto com o presidente Lula, é um mandatário solidário à causa palestina, denunciando o genocídio daquele povo? Mais do que isso, o governo Maduro mantém em Caracas a Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, que dá formação gratuita a 100 jovens palestinos, bem como a jovens do MST, de países africanos e da América Latina. Será mesmo cabível igualar Maduro a Bolsonaro? 

Não teria o senador amapaense refletido sobre a linha editorial belicosa que os meios de comunicação dispensam ao Presidente Lula porque, juntamente com os presidentes do México e da Colômbia, nega-se a seguir de forma subserviente ditames dos EUA que, sem provas materiais e com muita cobiça pelo petróleo venezuelano, já reconhecem o candidato opositor como vencedor na eleição venezuelana, da mesma forma em que, anos atrás, proclamaram Juan Guaidó presidente da nação vizinha, mesmo sem ter sido eleito? Hoje, Guaidó é apenas um fugitivo da justiça, sem paradeiro certo, porque amealhou, ilegalmente, ativos do estado venezuelano, que lhe foram repassados pelo governo dos EUA.

A estapafúrdia comparação de Randolfe Rodrigues, igualando o presidente bolivariano (odiado pela direita brasileira e pela TV Globo) com um político reacionário vulgar, inelegível por suas gravíssimas irregularidades e por seu golpismo, é candidata a ingressar no anedotário das confusões primárias da política tupiniquim que, em certo momento, o jornalista e humorista Stanislaw Ponte Preta elaborou para destacar aquilo que compõe um festival de tudo o que desconcerta e  deseduca política e culturalmente a sociedade brasileira. Certamente, mais coerente com a trajetória progressista do senador, uma das maneiras de redimir-se deste equívoco momentâneo, seria propor no Congresso Nacional - mesmo que tardiamente - uma moção de gratidão e reconhecimento ao governo Maduro por ter salvo tantas vidas brasileiras durante a Covid, quando revelou não apenas a solidariedade da política externa bolivariana, mas, também, sintonia plena com o espírito do Tratado de Cooperação da Bacia Amazônica.

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